Encontro com Leonardo Boff - em busca de mapas
Paulo Bassani
Às vezes a vida nos propicia oportunidades únicas. No final de 2011,
em Foz do Iguaçu, tive um encontro intelectual inesquecível com Leonardo
Boff, um dos maiores pensadores sociais, filósofo, teólogo e
ambientalista de nosso tempo.
O que me marcou não foi o fato de estar conversando com alguém que já
publicou mais de 80 livros e é referência mundial, mas sim com o homem
simples em sua complexidade, homem com alto espírito, com experiência,
conhecimentos e, sobretudo, com a sabedoria encontrada em poucos
personagens de nosso tempo. Suas palavras, energia, luz e inspiração
tornaram aquele encontro inesquecível.
Falei brevemente de minha formação, meus estudos e pesquisas rurais e
ambientais, ele, sempre atento, também fez questão de relembrar o
começo da Teologia da Libertação juntamente com Arthuro Paoli, Carlos
Mesters, Frei Betto, Clodovis Boff, Orestes Stragliotto e outros
protagonistas da igreja libertadora com quem tive o prazer de ter cursos
no final dos anos de 1970. Cursos em que aprendi a entender e respeitar
nosso povo latino-americano, sobretudo nossos camponeses, índios e
trabalhadores urbanos, oprimidos pelo sistema capitalista e pelas
ditaduras militares.
Boff fez questão de relembrar o tempo e a forma como foi exonerado
pela igreja e como recebeu a sentença do cardeal Ratzinger, atual papa
Bento XVI. Sua lucidez, seu olhar sobre o planeta e nossa civilização
são algo que chama atenção. Enfatiza que construímos uma civilização do
medo, da destruição, do uso abusivo sobre os bens da Terra, dos biomas,
da biodiversidade, da água e dos recursos minerais. Dizia Boff:
“Precisamos apreender a cuidar do planeta como de nossa mãe”.
Num dos mapas para trilhar a ética para a sustentabilidade, Boff
aponta quatro eixos fundamentais: o cuidado, o respeito, a
responsabilidade e a solidariedade. Destaca que o excessivo desgaste da
industrialização que causou o constrangimento dos fracassos da
tecnologia, também pode abrir um espaço diferenciado para a filosofia e
as ciências sociais que renascem para pensar exercícios de liberdade e
de felicidade. Para que se possa pensar uma produção e um consumo
sustentável, necessitamos desenvolver, ensinar e apreender uma cultura
sustentável, uma nova forma de produzir e de consumir, isso para termos
uma sobrevida no planeta Terra.
Suas palavras e seu olhar de esperança tomaram forma nos 40 minutos
finais de diálogo. Boff acredita na humanidade, nos homens, que, apesar
da demência tecnológica e cientificista que construiu este modelo
cartesiano que quase tudo dilui e separa, contrapõem-se com capacidade
criativa, sábia de perceber e rever as possibilidades de vida que se
manifestam em todos os cantos e de diferentes formas.
Estamos vivendo a travessia de um paradigma consumista, predatório para uma vida sustentável, de equilíbrio entre os homens e deles com a natureza.
*Paulo Bassani é sociólogo ambiental e professor da UEL. - Materia publicada no Jornal de Londrina 08/03/2012
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